Nos Estados Unidos, por mais de cem anos, os interesses dominantes propagaram incansavelmente o anticomunismo entre a população, até que ele se tornou mais uma ortodoxia religiosa do que uma análise política. Durante a Guerra Fria, a estrutura ideológica anticomunista podia transformar qualquer dado sobre as sociedades comunistas existentes em evidência hostil. Se os soviéticos se recusassem a negociar um ponto, eles eram intransigentes e beligerantes; se parecessem dispostos a fazer concessões, isso não passava de uma manobra habilidosa para nos deixar desprevenidos. Ao se oporem às limitações de armas, eles teriam demonstrado sua intenção agressiva; mas quando, de fato, apoiaram a maioria dos tratados de armamento, foi porque eram mentirosos e manipuladores. Se as igrejas na URSS estivessem vazias, isso demonstrava que a religião era suprimida; mas se as igrejas estivessem cheias, isso significava que as pessoas estavam rejeitando a ideologia ateísta do regime. Se os trabalhadores entrassem em greve (como aconteceu em raras ocasiões), isso era prova de sua alienação do sistema coletivista; se eles não entrassem em greve, era porque estavam intimidados e não tinham liberdade. A escassez de bens de consumo demonstrava o fracasso do sistema econômico; uma melhora no suprimento de bens de consumo significava apenas que os líderes estavam tentando aplacar uma população inquieta e, assim, manter um controle mais firme sobre ela. Se os comunistas nos Estados Unidos desempenharam um papel importante na luta pelos direitos dos trabalhadores, dos pobres, dos afro-americanos, das mulheres e de outros, essa foi apenas sua maneira ardilosa de reunir apoio entre os grupos marginalizados e ganhar poder para si mesmos. Nunca foi explicado como se ganhava poder lutando pelos direitos de grupos sem poder. Estamos lidando com uma ortodoxia não falsificável, tão assiduamente comercializada pelos interesses dominantes que afetou pessoas em todo o espectro político.